A violência sexual tem causas profundas no seio das famílias em nosso país, vivemos como se esta não fosse a realidade que nos permeia. Toleramos como sempre, mais um pouco do intolerável.

Crianças e mulheres são vítimas diretas desta violência e por mais doloroso que possa parecer a maioria dos casos ocorre nos lares, no seio de nossas famílias. A violência sexual ocorre no corpo, na alma e na vida interna da vítima que é ferida em sua dignidade, impossibilitando-a de desfrutar do direito de ser respeitada.

Dignidade, é alma, pele, essência, sensibilidade intransferível e jamais será ressarcida quando violada. Vejo esta realidade em meu trabalho há vinte cinco anos, ouço pessoas que sobrevivem, pois, os rastros dessa violência jamais serão apagados da vítima.

Dialogar, educar, esclarecer e admitir este gravíssimo assunto construtor de fatos e circunstâncias extremamente sofridas em nós ou em nosso entorno é dever de todos. Estamos tão ocupados em formar profissionais que acabamos deixando de lado a sensibilidade, num momento em que se repete profundo descaso social do ser humano pelo ser humano e o que não podemos esquecer é que todos o somos, nascemos e morremos apenas como ser humano.

Os benefícios ou males que compõem uma sociedade são oriundos dos lares, das famílias de onde surgimos no mundo. Somos inteligentes, pensantes e sensíveis, apesar de animais. Devemos nos tornar responsáveis pela vida que habitamos e pelo raio de alcance de nossas atitudes no mundo, pois sou sensível e você também.

Por que nos ferimos tanto? De onde vem tamanha indiferença? Precisamos tocar de forma inteligente e sensível nossa humanidade, exercendo a liberdade auto responsável que exige dialogar sobre a sexualidade humana em uma sociedade desigual e patriarcal da qual cedo ou tarde eu e você seremos atingidos como vítimas do descaso.

Volto a reafirmar, tudo isto começa na (micro) sociedade chamada família onde somos coniventes com atitudes que não deveríamos tolerar nem tão pouco calar. Tomamos na macro sociedade o cálice amargo que insistimos em desviar o olhar nos nossos lares onde aprendemos a ser a sociedade que somos. 

A sociedade é o resultado de nosso faz de contas.

Por Marlete Wildemberg